digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, outubro 25, 2017

Don

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O negro tem mistério, esconde perseguidos, predadores e heróis. No escuro não há música, somente os ruídos incapazes de se recatarem. A revelação arranca o medo, à luz não há monstros e o sono tarda em cumprir-se.
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A noite é como outro mundo, quando as flores cheiram diferentemente.
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Como o sal tempera, um fino feixe acorda os arrepios e o engolir da saliva atrapalha-se na garganta dilatada. Não há medo como esse.
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Nas horas do dever ser-se acordado, a silhueta negra é uma vertigem de vontade de alcançar e receio de tocar. Como se a derrota importasse elevadamente e a vitória se indesejasse.
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O Don foge pelos corredores das ameias e encurralado deixa ao perseguidor o sombrero andaluz, a capa coimbrã e uma garrafa de Vinho do Porto.
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É esta uma glória do mistério sobre o esclarecimento, como o êxito do placebo sobre a doença.
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O Don revelou-se, em 1928, pelo traço e pintura de Georges Massiot. Perfeito, eterno e infinito como o paralelogramo losangular e impossível de Victor Vasarely.
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Gerou-se nos porões húmidos dos navios que, desde 1790, traziam lanifícios e carvão e levavam Vinho do Porto. Pernoitou secretamente antes de se erguer no negrume. Onde vive quando não sequestra a respiração e o olhar do espanto fantasmagórico? Nas caves de luz infiltrada, de carácter do ouro quase velho.
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Sempre de negro, com a elegância superior do Rei de Portugal embuçado, vestido para vencer. Isso consolava-me a fantasia.
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O Batman é maior desde que lhe tiraram o azul e o cinza. Hoje, o Don permite vislumbrá-lo, mas não é menos solene nem soberbo. Que bem, mas prefiro-o de fisionomia calada, como foi a Maçonaria antes de ser discreta. Ainda assim, a visagem é feliz, obra da Volta Branding & Digital Studio.
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O Don não se deixará capturar, desaparecerá na sua torre sem caminho, deixando uma garrafa de Vinho do Porto para o perseguidor se felicitar e ter desafio e alma na sua obsessão impertinente.
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Georges Massaiot
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Logótipo precedente ao actual.
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Dani Morell
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Nota: Gosto tanto do Don que anteriormente já o tinha convidado a estar no infotocopiável.
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