digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, outubro 08, 2017

Espanha, Castela, Catalunha e mais umas coisas

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Sancho III de Castela. Iluminura do «Compendio de crónicas de reyes del Antiguo Testamento, gentiles, cónsules y emperadores romanos, reyes godos y de los reinos de Castilla, Aragón, Navarra y Portugal», datado do início do século XIV.
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Penso que a independência da Catalunha é um erro, mas esta vontade não surge do nada. Nem nos é difícil entender esse desejo – duma maioria ou minoria – pois temos inúmeros exemplos do azedume do centro peninsular, o herdeiro de Castela, quanto a Portugal.
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Nunca Castela, nem o seu posterior prolongamento como Espanha, digeriu o incómodo de não possuir este pequeno rectângulo com umas ilhas no Atlântico e que se estendeu por quatro continentes.
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Nos sessenta anos em que o Rei de Espanha foi Rei de Portugal, a importância do nosso território traduziu-se no importante lugar que o brasão português ocupou na ordenação heráldica do ocupante.
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Nem mesmo o casamento antigo com o Reino de Leão ficou isento da arrogância castelhana. A soberba castelhana pode começar (?) a marcar-se pelo desrespeito pelo primeiro país que tragou. O leão heráldico, do Reino de Leão, de púrpura passou a vermelho, de modo a que se fosse obtida uma melhor combinação cromática.
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Embora a troca dos esmaltes já acontecesse antes, Carlos I de Espanha – Carlos V como Imperador do Sacro-Império Romano-Germânico – ainda respeitou as armas seculares, pelo menos em algumas situações. Só após 1580, quando acrescentou o escudo português, é que Filipe II de Espanha lhe alterou o esmalte. A partir daí, o leão ficou sempre de vermelho.
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O azedume do centro peninsular revela-se em coisas menores, como o incómodo pelo sucesso de José Mourinho ou as vaias, de alguns adeptos do Real Madrid, a Cristiano Ronaldo, alguém a quem devem estar gratos, pela dedicação ao clube e importância para o seu êxito.
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O franquismo foi uma continuidade do que vinha de trás. O imperialismo castelhano não conhece lado político nem opção de regime.
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Gaspar de Gusmão.
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Melhor do que ninguém, o Conde-Duque de Olivares, o poderoso ministro de Filipe IV de Espanha, traduziu o que foi e, em grande medida ainda é, a política imperial duma parte sobre o todo.
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«Tenga V. M. por el negocio más importante de su Monarquia el hacerse rey de España; quiro decir, Señor, que no se contente V. M. com ser rey de Portugal, de Aragón, de Valencia, Conde de Barcelona, sino que trabaje y piense, com consejo maduro y secreto, por reducir estos reinos que se compine España al estilo y leys de Castilla, sin ninguna diferencia».
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Heráldica
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A alteração do esmalte do Reino de Leão não foi imediato. O último monarca leonês foi Afonso IX. Sucedeu-lhe o seu filho, que reinava em Castela como Fernando III. No século XV o leão ainda surgia em púrpura.
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Grande Armorial Equestre do Tosão de Ouro – 1430 a 1461 – João II de Castela e Henrique IV de Castela – Branca I de Navarra e Consorte João II.
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Livro do Armeiro Mor.
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Possivelmente, foi no reinado de Joana I de Castela que o esmalte foi trocado. Contudo, no Livro do Armeiro Mor – 1509 a data incerta – o leão aparece ainda de púrpura. Entre a época em que começou a ser criado até a uma data provável de conclusão, este armorial português refere-se ou a Joana I, soberana herdeira do trono, ou, mais crível, ao Consorte Filipe I, visto na legenda surgir Rei de Castela.
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Desde então, o brasão de Leão surgiu sempre com o mesmo esmalte do de Castela. Embora a composição do desenho completo das armas tenha variado, conforme os Reis, os vários desenhos dos brasões repetiram-se em diferentes monarcas. Atestando a superioridade castelhana atente-se na simbologia republicana.
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Joana I de Castela e Joana I de Aragão (Filha dos Reis Católicos) e Consorte Filipe I – 1479 a 1555.
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Carlos I Imperador Romano – 1516 a 1556.
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Filipe II, Filipe III, Filipe IV e Carlos II – 1556 a 1580 e de 1580 a 1700.
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Com a crise Dinástica do século XVII, a representação naturalmente divergiu.
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Carlos VI Imperador Romano (Sacro-Império) – 1685 – 1740.
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Filipe V, Luís I a Fernando VI – 1683 a 1759.
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José I Bonaparte – 1808 a 1813.
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Carlos III, Carlos IV, Fernando VII e Isabel II – 1716 – 1904.
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Amadeu I – 1870 – 1873.
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Primeira República – 1873 – 1874.
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Afonso XII e Afonso XIII – 1874 a 1931.
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Segunda República – 1931 a 1939.
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Estado Espanhol (Franquismo) – 1939 a 1975.
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Reino de Espanha.
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A Democracia, recuperada em forma de Reino, recuperou o esmalte original do Reino de Leão, embora apareça aqui de forma deslavada. Castela, Leão, Aragão, Navarra, em ponta Granada e sobre o todo Bourbon.
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Aragão e Catalunha
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Aragão antigo.
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Já agora, refiro que o brasão que, durante séculos, representou o Reino de Aragão não é o original. Entre Ramiro I e Petronilha – 1035 a 1164 – foi usado um símbolo que viria a ser recuperado em 1982.
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Catalunha e Aragão moderno.
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A Petroninha sucedeu-lhe o marido, Afonso II, Conde de Barcelona – desde então, o escudo de ouro com quatro palas de vermelho tornou-se sinónimo do Reino de Aragão.
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O novo brasão aragonês passou a constar, idêntico ou com composições acrescentadas, nos domínios deste país: Ducado de Atenas, Condado de Barcelona, Reino de Maiorca, Condado de Provença, Reino de Sicília e Reino de Valência.
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Autonomia de Aragão.
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A Região Autónoma de Aragão escolheu um brasão referenciado no final do século XV. É composto pelos símbolos do Reino lendário de Sobrarbe, Reino de Aragão (antigo), evocação da Batalha de Alcoraz (1096) e Condado de Barcelona. A representação do recontro passaria a representar o Reino de Sardenha, concedido pelo Papa Bonifácio VIII, em 1297, em favor a Jaime I.

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